Psicanálise Da Crise
A incerteza não foi gerada patologias psíquicas novas, todavia a todo o momento exacerbado alguns sintomas que marcaram o momento de alteração em que vivemos. A era do individualismo é a nossa época, onde as velhas identidades sólidas entraram em crise (“não nos representam”) e outras notabilizam a sua pétrea firmeza ligadas a crenças religiosas fundamentalistas.
A decadência confronta cada um com a angústia da incoerência e com as perdas reais: moradia, trabalho, papel familiar. A sua agressividade -noite, por os eufemismos de linguagem – deixa muitos à intempérie, com suas vidas em instabilidade.
nesse dossier analisamos algumas destas incidências subjetivas: o desamparo do despejo, o declínio da masculinidade, da solidão feminina. Uma das primeiras decorrências da recessão foi o acrescento espetacular de execuções somado aos despejos por ausência de pagamento de aluguéis.
Hoje temos neste momento de incalculáveis testemunhos de pessoas afetadas. Calibrar o que representa para qualquer um, do ponto de visibilidade psíquico, a perda de sua residência necessita de que saber primeiro que valor lhe dá, a todo o momento característico e que vai muito além de um bem equipamento.
- Seis Eleições de 1999
- Registado em: Vinte e um jun 2001
- Morre Florián Rey. Criação da produtora cinematográfica Moncayo Films
- 10 Governos militares
- seis Referências 6.1 Notas
- cinco D da vontade. (Amour)
- Solano Antoñanzas, José Maria (1965) “Etnologia da Vila de Pradejon”
- 4 Indústria financeira
A primeira função da residência, em termos de realidade psíquica, é a de proteção pessoal, elemento de subsistência, ante as ameaças externas em todas as civilizações. Frente ao desamparo dos primeiros humanos, as cavernas habitadas realizar essa função de refúgio, e hoje o exercem os atuais empreendimentos, alguns equipados com sofisticados sistemas de segurança. A moradia protege o homem do exterior, percebido como hostil. A essas razões objectivas óbvias, ligadas à sobrevivência, desejamos juntar também as vivências subjetivas, o jeito como qualquer um percebe este refúgio. Freud falava do desamparo (hilflosigkeit) como amor primário do menino, que ao nascer prematuro requer sim ou sim da intervenção do outro que o acolhe e protege.
Essa competência de contenção primária confere um valor muito significativo pra família, que continua a ser o último refúgio e mais em um ciclo de recessão das organizações básicas como o atual. Domingo, pai de quarenta anos emigrado há 12, para recuperar a sua família em 2008, urgido pelas condições de extrema vulnerabilidade em que viviam em teu estado (precariedade económica, deterioração intrafamiliares).
Agora, se viu muito obrigado a dar sua residência por não poder aguentar com a hipoteca. Sua preocupação expressa com uma pergunta que se formula a si mesmo e que contém uma denúncia e, ao mesmo tempo um autoreproche: Como irei eu para protegê-lo neste momento, se nem sequer temos um teto? Ele experimenta uma intuição mista de raiva e impotência por essa impossibilidade.
No relato de sua biografia pessoal há momentos complicados em que se viu forçado a errar de um local para outro, sem poder afirmar-se e a correr riscos pra tua própria existência. Quando chegou a Portugal se fez a probabilidade de atingir uma casa e, para essa finalidade, trabalhou a empreitada. Seu maior orgulho, no momento em que obteve a família e a levou do aeroporto pra residência, foi comprovar este chão que qualificava como “meu espaço seguro”. Uma segunda significação da perda é dada pelo episódio de que a casa proporciona um sentimento de identidade e pertença social. A residência é o domus do clã, a fonte simbólica das gerações e da linhagem.
Ainda é comum em meios rurais reconhecer a uma pessoa para a tua residência de pertença, e também teu nome ou apelido. A pergunta “como é que a moradia é você?” é a respeito de as origens do sujeito. Esta casa, no momento em que é o espaço físico compartilhado por diversas gerações (avós, pais, filhos,..), é uma história partilhada, refletida na multidão de objetos, memórias ou documentos.
Finalmente, a moradia é uma projeção do corpo e do íntimo, aparência mais moderna e menos presente na antiguidade, onde a intimidade não era um valor, dado que o eu não existia como tal. Quando a residência se transformou em um espaço privado foi adquirindo uma significação muito ligada à singularidade. Manuela, de 66 anos, explica muito dolorosa que o que mais dói de deixar a tua casa -prontamente que a deita – é a visão que tinha da sala de jantar.